Uma vez, uma diretora de escola disse o contrário: "Ele é mau, me desculpe, mas o seu filho é mau". A mãe deu de ombros e saiu sem qualquer decisão. Isso foi antes do acidente que tirou dela boa parte dos movimentos. Acidente causado pela imprudência de Junior. Ele estava em alta velocidade, mas ela não percebeu, ele havia bebido e ela fez questão de não saber. O filho saiu ileso, a mãe ficou presa nas ferragens e, até hoje, em casa.
"A culpa não foi do Junior", disse ela muitas vezes e, em outras vezes, quando alguma acusação era feita ao filho bom. "O problema é que ele é nervoso. Quando está calmo, é um anjo". Era esse um outro texto que a mãe usava mais para a família. Para que compreendessem o menino.
O menino é um homem. E é dual. Tem atitudes generosas e atitudes perversas. Há teorias e teorias que tentam explicar essa luta no interior do ser humano. O bem e o mal. O homem nasce bom e a sociedade o corrompe? O homem nasce mau e a sociedade o melhora? O homem tem dentro dele dois lobos: um pacífico e um cheio de ódio. Cresce e domina o que ele alimenta mais? Qual a teoria mais correta?
Dona Amanda, mãe do Junior, não entende das filosofias. Nem percebe que excesso de proteção pode prejudicar. Julieta, a namorada, também não gosta de pensar muito. Se pensasse, se ouvisse alguns conselhos, se pesquisasse, não ficaria com alguém que a desrespeita.
E Junior? Nasceu como? Foi ficando como? Tem conserto?
Respostas simplistas não resolvem grandes inquietações. As perguntas sobre os outros talvez sejam um caminho para refletirmos sobre a nossa própria dualidade. Bondades e maldades, não sei por qual razão, estão em nós. Só sei que precisamos ser fortes o suficiente para decidirmos.
Prefiro continuar acreditando que o bem vence o mal. Sempre. Mesmo que demore um pouco...
Por: Gabriel Chalita (fonte: O Dia - RJ) | Data: 22/07/2018